Noite Sóbria na Corrida dos Palha em São Mansos
27 de Agosto de 2011 - 08:24h | Crónica por: Sérgio Lavado - Fonte: - Visto: 2507 |
Foi com as bancadas a 3/4 que a praça de toiros de São Mansos recebeu a corrida da lendária ganadaria Palha. Uma noite fria, não só pela baixa temperatura ambiente mas também pela falta de emoção no ruedo (salvo raras excepções). Assistiu-se a lides correctas e com ferros bem conseguidos mas faltou aos cavaleiros empatia com as bancadas e aqueles adornos que normalmente arrancam palmas dos tendidos. O curro de Palhas apresentou-se homogéneo de trapio, salvo o 5º que era mais baixo, mais rematado e corniaberto. Em termos comportamentais mostraram-se, em geral, manejáveis, com fijeza na montada, com mobilidade, fundo e presença em praça, com excepção do sexto que desenrolou crenças nas trincheiras, investindo sempre para se defender e nunca para atacar. De destacar o 3º que foi o melhor da corrida. A cavalo montou António Telles, que alternou grandes ferros com outros mal colocados, conectando-se poucas vezes com a afición de São Mansos, Rui Salvador que desenhou duas lides bem conseguidas, especialmente frente ao seu segundo mas também poucas palmas arrancou dos tendidos e Vítor Ribeiro, que alcançou a melhor lide da noite frente ao seu primeiro e mostrou conhecimento e maestria frente ao seu segundo. Nos forcados, pegava em solitário o Grupo de São Mansos, que efectuou quatro pegas à primeira, uma à segunda e uma à quarta tentativa.
A noite começou com uma lide de António Telles frente a um negro, nascido em 2008 e marcado com o número 58. Este Palha mostrou qualidade durante a ferragem comprida. Sempre pendente da montada, tomava a iniciativa no desenhar das sortes e permitia reuniões emocionantes mas, após se iniciar a ferragem curta começou a perder mobilidade e a procurar refúgio em tábuas. António Telles mostrou ofício e cravou três ferros curtos de boa nota, sacando o toiro das crenças, colocando-o em sorte e cravando “en todo lo alto” mas o toiro punha pouca emoção nas reuniões o que levou a que a lide arrefece-se. Mas quando tudo parecia perdido o cavaleiro fecha a actuação com um curto, que viria a ser o melhor desta lide. Citando de frente e de praça a praça, António Telles crava este quarto ferro curto ao estribo, com o toiro a derrotar alto, desenhando-se uma emocionante reunião. Para os forcados, este primeiro da noite viria a revelar-se o mais complicado. À cara foi chamado Nuno Piteu, que depois de cinco ou seis derrotes “secos” foi levado para a enfermaria. À dobra foi chamado Pedro Ponte, que também viria a ser levado para a enfermaria depois de uma violenta reunião que não permitiu ao forcado ficar na cara. Já com as ajudas carregadas, consumaram a pega ao quarto intento, com João Valadas a encabeçar o grupo.
Frente ao seu segundo (4º da corrida), António Telles alternou entre o bom e o menos bom. Este Palha apresentou-se de pelagem negra, nascido em 2008 e marcado com o número 174. Colaborou bastante com o cavaleiro mas também nunca pôs muita emoção no que fazia. Telles começou com três compridos, dois deles mal colocados e outro bem conseguido, seguiu para os curtos e a alternância manteve-se. Se uns houve de grande mérito e bastante bem cravados outros ficaram traseiros e descaídos. Destacou-se pela positiva o segundo e o quarto que foram bastante bem desenhados e onde o toiro mais se empenhou. À primeira tentativa João Fortunato, efectuou uma pega fácil, com o toiro a meter bem a cara na reunião e a empurrar sem maldade “pelo grupo a dentro”.
Histórias idênticas tiveram as lides de Rui Salvador, que andou correcto, cravando “no sítio”, sem toques na montada e dando a volta às dificuldades quando estas surgiam mas também sem nunca aquecer os tendidos. Caso tivesse sido mais empático com a afición de São Mansos as suas lides poderiam ter tomando outras dimensões. No seu primeiro (2º da corrida), o número 95, nascido em 2008 e de pelagem negro listón, Salvador andou correcto mas pouco mais que isso, nunca chegando às bancadas. Uma lide com pouco para contar frente a um Palha que se deixou lidar mas que tinha pouca mobilidade e se recusava a tomar a iniciativa, aguardando pela montada até ao último momento. Depois de uma primeira tentativa onde o toiro se recusou a meter a cara no forcado, Arménio Reis consumou ao segundo intento, numa pega onde citou com maestria e se fechou bastante bem na cara do toiro.
Frente ao quinto da noite, um negro, nascido em 2007 e marcado com o número 72, Rui Salvador podia ter alcançado uma lide de dimensões muito superiores. Este Palha saiu dos toriles distraído mas rapidamente revelou a sua excelente condição. Tomava a iniciativa no desenhar das sortes, perseguindo a montada a galope, tinha fijeza no seu oponente e permitia reuniões emotivas mas tinha um defeito que sobressaiu bastante: era “andarilho”, o que dificultava a sua colocação em sorte, complicando a vida a Rui Salvador. O cavaleiro cravou ferros de excelente nota, com especial destaque para o 2º comprido ao quiebro, o 1º e o 3º curtos a dar vantagens ao toiro e o 2º curto em terrenos de dentro. Mas das bancadas os aplausos recusavam-se a sair. Ao público faltou-lhe vontade de ver toureio a cavalo com verdade e ao cavaleiro faltou-lhe empatia com o público e adornos para “meter” a afición de São Mansos na lide. Manuel Dinis consumou à primeira tentativa numa pega fácil mas em que o toiro empurrou até às trincheiras.
A Vítor Ribeiro tocou-lhe em sorte o lote mais desigual em termos comportamentais. O seu primeiro, um negro bragado, nascido em 2008 e com o número 63 cravado a ferro em chama, viria a revelar-se o melhor toiro do curro. Este Palha tinha as mesmas qualidades dos seus irmãos de camada mas “arreava” depois dos ferros o que permitiu que Vítor Ribeiro conseguisse a melhor lide da noite, já que esta característica tornava as sortes mais emotivas. Apenas lhe faltou tomar a iniciativa no desenhar das sortes para ser o toiro ideal. Ainda assim, Ribeiro cravou excelentes ferros, alguns deles junto a tábuas e em distâncias curtas, que rematou com bregas ajustadas que o público de São Mansos aplaudiu com força, tornando-se na única lide em que os tendidos estiveram de verdade “metidos” no que se passava na arena. Para a cara deste excelente exemplar de bravura foi chamado João Carretas, que numa pega rija consumou ao primeiro intento aquela que viria a ser a melhor pega da noite.
O segundo do lote de Vítor Ribeiro revelou ser o pior do curro. Este manso, negro de pelagem, nascido em 2008 e marcado com o número 182, até parecia bom nos compridos mas depois fechou-se em tábuas e quando investia, fazia-o apenas para se defender e voltava rapidamente para as suas crenças. Ribeiro frente a estas dificuldades mostrou-se conhecedor dos terrenos e elaborou uma lide de mérito, sacando sempre o toiro das crenças sem recorrer a capotes e cravando toda a ferragem curta contra as crenças do animal. Terminou a actuação com um ferro de palmo que o público aplaudiu com força. Fechou a corrida com chave de ouro Pedro Fonseca, com uma pega à primeira tentativa, onde o forcado templou bastante bem o momento da reunião.