Uma Noite de Bravos em Milfontes
14 de Julho de 2013 - 23:59h | Crónica por: Filipe Pedro - Fonte: - Visto: 2592 |
Nos últimos dias a temperatura arrefeceu e a viagem para Vila Nova de Milfontes foi, aqui e ali, feita sob uma chuva miudinha, o que provocou algum receio que esta pudesse tornar-se mais forte e cancelar a 2ª Corrida de Toiros da Casa do Povo de São Luís.
O receio não passou disso mesmo. A fraca chuva cedo se dissipou. A corrida foi uma realidade e contou com um curro de toiros da ganadaria Brito Paes que orgulha qualquer ganadeiro. Com exemplares bem rematados, os novilhos toiros não aparentavam ter força que ameaçasse grandes estragos, mas na realidade saiu na desmontável de Milfontes um curro bravo, que apertou os intervenientes, acudiu aos cites, investiu com nobreza e humilharam que se fartaram (mesmo que a degradação gradual do piso supusesse outro comportamento).
O segundo exemplar da noite teve direito a um regresso para o campo, mas também o quinto da corrida e o sexto astado são de um comportamento mais do que digno de uma praça de primeira. O quinto foi o que mais me encheu as medidas, pois cedo tomou conta do ruedo, investiu a qualquer invasão de terrenos (mesmo que estes fossem na outra extremidade da praça) e partiu sempre em viagens nobres para a montada, assim que o cavaleiro erguia o ferro, mal iniciava o cite.
Com a edição na temporada transacta a proporcionar uma casa esgotada, este ano a organização aumentou a lotação do recinto, que contava com 2620 lugares bem publicitados nas bilheteiras. Milfontes respondeu ao apelo e preencheu com ¾ fortes a lotação da desmontável, com um ambiente festivo, que muito acarinhou todos os intervenientes e fez também ele parte da agradável noite de toiros que se viveu em Vila Nova de Milfontes, com o mercúrio dos termómetros estabilizado nos 20ºC.
Joaquim Bastinhas foi quem teve o pior lote da corrida. O primeiro da noite foi andarilho, tinha uma mangada de manso e sofreu um tratamento exagerado da quadrilha. O cavaleiro de Elvas realizou uma lide de menos a mais, com muitas deficiências nos compridos. Nos curtos ligou-se com as bancadas, andou alegre e vibrante e terminou com um par de bandarilhas no corredor, a pedido do público. Após ser homenageado no intervalo pelos seus 30 anos de alternativa voltou para lidar o quarto, ligeiramente tardo e que metia a cara para varrer a arena. Bastinhas merecia (mas não teve) banda no primeiro curto, colocado numa emotiva e centrada reunião nos médios. Voltou a andar ao seu estilo, alegre e ligado com as bancadas, até ao par de bandarilhas com que terminou a lide, de novo no corredor. Saltou da montada e deixou Milfontes, tal como ele, de pé.
Filipe Gonçalves teve um lote de fazer inveja a qualquer cavaleiro, em qualquer praça, e foi o grande triunfador da noite. O segundo foi um bravo logo de saída, nobre, com um tranco determinado e concedeu uma lide irregular nos compridos ao cavaleiro algarvio, com algumas passagens em falso. Nos curtos trocou duas vezes de montada. O primeiro quiebro conquistou a desmontável, rematado com uma dupla pirueta. Voltou a repetir o mesmo desenho de sorte e de remate, e quando sacou do “bate palmas” fez explodir Milfontes, até ao violino com que terminou a sua actuação. O quinto da noite cedo tomou conta do ruedo. Um bravo que investiu de todo o lado, não precisou que fossem seleccionados terrenos, bastando deixá-lo junto a tábuas, que partia de imediato numa viagem nobre para a montada, assim que o cavaleiro erguia o ferro no cite. Filipe Gonçalves não deixou escapar a oportunidade e efectuou uma lide assente em batidas muito pronunciadas, após citar de praça-a-praça e cravar nos médios. Com o triunfo na mão, consolidou-o ao não cometer falhas com a ferragem, sempre muito ligado com as bancadas, até ao ferro de palmo com que fechou a segunda actuação, com um saldo final de 11 ferros.
António Brito Paes surgiu em praça para lidar o terceiro da noite. Um exemplar que tinha um tranco dócil e uma viagem nobre, a menos durante a lide e de exigente brega. Brito Paes não foi o cavaleiro mais aplaudido da noite mas nesta lide, quanto a mim, são dele os melhores ferros da corrida. Saõ eles os três primeiros curtos, colocados nos médios, de cima para baixo, após uma brega de enorme qualidade. O oponente foi perdendo disponibilidade e condição, e com ele, também o cavaleiro caiu de produção. Terminou uma óptima actuação com um ferro de palmo. O sexto da noite foi outro bravo mas que pecava pela escassez de força. O piso encontrava-se já num estado muito debilitado, o que agravou as condições do oponente com o desenrolar da lide. Brito Paes adaptou-se ao que tinha por diante e baseou a lide em sortes cingidas, numa acuação sem defeitos que se possam apontar, mas que nunca rompeu para patamares de triunfo, perante um toiro de enorme qualidade, que acusou em demasia o estado do piso.
Na forcadagem os dois grupos em praça saíram com o mesmo resultado de Milfontes.
Abriu a noite Eurico Medronheira pelos Amadores de Lisboa, com uma pega rija, à córnea, até tábuas, consumada ao segundo intento. Daniel Batalha fechou-se na córnea à primeira tentativa. João Galamba viu o oponente partir determinado e fechou-se também na córnea. A viagem atravessou o grupo e quando parecia que a pega se iria desfazer, com João Galamba “preso por arames” na cornamenta do Brito Paes, o grupo apareceu e consumou à segunda tentativa.
Paulo Loução foi para a cara do primeiro dos Amadores de Cascais. Bem a recuar e com o oponente a humilhar, perante um exemplar que varria o piso da arena, tal era a forma como humilhava e lhe embateu nas canelas na primeira tentativa. Na segunda, conseguiu de forma incrível ajustar a forma como se sentou na cara de tão humilhada reunião. Ventura Doroteia fechou-se na córnea ao primeiro intento. Carlos Ricardo teve a pega da noita à sua mercê, quando citou com galhardia, efectuou a chamada, o oponente partiu nobre mas com Carlos Ricardo a cair ao recuar. Fechou-se à segunda tentativa.