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Palha Blanco - Aqui o Toureio a pé não está morto!

A fórmula de 8 toiros numa corrida mista, em boa hora foi recuperada pela empresa Tauroleve. Com seriedade no cartel, o público respondeu em peso. Os marialvas afirmaram-se e houve flamenco vindo das bancadas para o toureio a pé.
06 de Outubro de 2014 - 22:39h Crónica por: - Fonte: Taurodromo.com - Visto: 2822
Palha Blanco - Aqui o Toureio a pé não está morto!

Tarde de casa cheia na Palha Blanco, para a primeira corrida da Feira do Toiro de Vila de Xira.

A empresa Tauroleve retomou a fórmula usada noutros tempos para as corridas mistas, em que dois cavaleiros e outros tantos matadores enfrentam cada um dois toiros. E no cartel, a ganadaria Palha, na semana de véspera do seu regresso a Las Ventas, constituía um forte atractivo para a que afición se deslocasse à Palha Blanco. Razão que resultou em sucesso, medido pelo preenchimento das bancadas.

E quão precisado estava o toureio a pé de uma resposta como esta, muito por culpa das contínuas descrições fúnebres do toureio a pé em Portugal. E para que não se caia neste registo no mesmo exagero, não é que tenha sido uma corrida de encher por completo o olho, mas na verdade até que andou longe disso, tendo porém em conta, que da Palha Blanco, por mérito da sua gestão, se espera sempre o melhor. Mas ficou a sensação de que quem assistiu, saiu com agrado e sem acusar o passar do tempo.

Certo é que Vila Franca foi aos toiros e disse mais do que apenas estar presente. Afirmou que pelo menos ali, na Palha Blanco, o toureio a pé em Portugal não está morto. E tendo em conta que a empresa que lhe geriu os destinos já anunciou que irá abandonar os mesmos, quem vier no futuro saberá, por certo, que terá entre mãos algo mais do que somente a gestão de uma praça, como a corrida de ontem fez questão de salientar.

O curro da ganadaria Palha não foi nenhum primor em apresentação. Três dos hastados pareciam iludir-nos de que estaríamos numa desmontável. Sem homogeneidade no comportamento, também neste capítulo não revelou bravura em conta suficiente. Contudo, não foram toiros que ofereceram facilidade. A cavalo exigiram brega, que lhes mudassem e pisassem os terrenos. A pé, somente o sétimo foi um toiro de triunfo.

Manuel Telles Bastos abriu a tarde com uma sorte gaiola, plena de emoção e de aplausos, diante de um negro, bem rematado nas formas, com 575Kg de peso e com o numero 196. Na ferragem comprida o oponente foi pronto e adiantou-se. Nos curtos passou a defender-se e tardou a reunir. Chegou a descair para as tábuas, para depois voltar a sentir-se a sua presença no momento do ferro e nos médios, para no final definir que seriam as tábuas o seu local predilecto. Com uma brega constante digna de uma figura, na ferragem curta Telles Bastos efectuou uma lide em crescendo. O quarto curto colocou-o nos médios e debaixo do braço e rematou a sua actuação com um ferro a pedido das bancadas, em que tardou a tirar o oponente das tábuas, deixando-o nos médios e colocando com exactidão de cima para baixo.
O quinto da corrida deveu, e muito, em apresentação. Com 505Kg e o nº 17, o Palha elegeu os médios como residência e tentou tomar conta do ruedo. Foi um exemplar nobre e bravo, que se fez passar por desinteressado, e que sem impôr velocidade alguma esteve sempre à espreita da primeira nesga para causar danos. Telles Bastos deu praça ao oponente e citou a passo para o hastado. Este, após dois passos dados pela montada, arrancou sem grande velocidade e reuniu sempre nos médios, empregando-se nos remates. Telles Bastos cravou toda a ferragem de alto a baixo e deixou a Palha Blanco, debaixo de fortes aplausos e com uma grande actuação e mais um triunfo.

Marcelo Mendes recebeu à porta gaiola um negro, de 465Kg e com o número 58, que tinha tanto de mal apresentado, como de um tranco de um bravo na saída. Perseguiu de rabo arqueado o cavaleiro e quis impôr-se no ruedo. Só que assim que recebeu a ferragem passou a defender-se. Apesar de apresentar nobreza, preferiu ser atacado e jamais se fez às reuniões, nem humilhou um palmo sequer. Marcelo Mendes preocupou-se em ter critério e a lide agradou às bancadas. Mas com alguns toques, a ausência de remates e um oponente acobardado, a mesma não teve o brilho desejado.
No sexto da tarde, já com a noite a invadir o ruedo, surgiu um oponente melhor apresentado, com 540Kg, o nº 135 e que com bons modos obedecia aos cites. Com batidas ligeiras, nos médios e em terrenos do hastado, recebeu banda logo ao primeiro curto e empolgou de imediato as bancadas. A ferragem foi colocada nos médios e com ortodoxia. Já com o público garantido, Marcelo Mendes foi buscar o Único. Manteve o nível da sua actuação e os remates das sortes passaram a ser mais vistosos, com a Palha Blanco a tributar-lhe uma estrondosa ovação e garantido-lhe também um triunfo.

Sánchez Vara recebeu os dois oponentes com uma larga cambiada de joelhos, para depois lancear à verónica. No terceiro da corrida rematou com uma meia verónica e no sétimo ainda efectuou três chicuelinas, que rematou com duas meias verónicas. Mas foi no tércio de bandarilhas que esteve o destaque da sua primeira actuação. Colocou um par com verdade, outro partindo do estribo da teia e finalizou com um violino. Na muleta, o hastado protestava as investidas e apenas pelo pitón direito admitia maior profundidade. O vento soprou com intensidade e a faena foi pouco mais do que esforçada.
No sétimo da tarde, Sánchez Vara teve um toiro de triunfo. Sem o desaproveitar por completo, rubricou uma faena de entrega, onde faltou temple e onde se destacam os primeiros passes na muleta. Com a noite já instalada adornou-se no 2º tércio. Um par de frente, outro em violino e um de cadeira com quiebro. O oponente investia por ambos os pitóns, com maior recorrido pelo direito, humilhava com seriedade e repetia a gosto. Sánchez Vara iniciou faena de joelhos e após três trincherazos, um espontâneo ergueu-se da bancada e acompanhou os passes pela mão direita entoando acordes flamencos, que luziram a actuação do diestro espanhol e confirmaram as certezas de que nos encontrávamos na “Sevilha Portuguesa”. Mas após a despedida do flamenco, a faena de Vara assentou na vulgaridade.

Nuno Casquinha foi o homem em menor destaque na tarde vilafranquense. O quarto da corrida foi andarilho, sem investida e quando a teve foi demasiado curta.
O último da noite já possuía fijeza e tinha mais fundo mas de uma apresentação deplorável e pouco digna. Casquinha lutou, e muito, para sacar-lhe faena e obter triunfo. Só que o Palha investia com muita pata e cedo se apagou.

A tarde foi perfeita no que à forcadagem diz respeito. Os dois grupos aceitaram a competição e não permitiram que houvesse um triunfador absoluto. Todas as quatro pegas foram efectuadas ao primeiro intento, na córnea e com viagens duras e embates violentos em tábuas.
Assim, por Vila Franca, António Faria e Francisco Faria foram para a cara dos oponentes e contaram com a coesão dos Amadores de Vila Franca de Xira.
Também os Amadores de Coruche revelaram idênticos atributos, com José Marques a elaborar o melhor cite da tarde e o cabo Amorim Ribeiro Lopes a suportar a viagem de maior dureza.

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