Mário Coimbra é o mais antigo funcionário da Praça de Toiros do Campo Pequeno. Tem 59 anos de serviço nos curros e na arena são tema para a nossa conversa com o decano dos funcionários do tauródromo Lisboeta.
Taurodromo.com (T) – Quem é você, Mário Coimbra?
Mário Coimbra (MC) – Antes de mais um apaixonado pela festa. O Campo Pequeno foi sempre a minha segunda casa. Sou um “arenero” de “dinastia.
T – De dinastia? Como assim?
MC - O meu avô começou a trabalhar na arena nos anos 20 (tempo de toiros de morte) e o meu pai, mais tarde (anos 40) foi o responsável pela mesma arena. Acompanhei-os ainda de calções e aos 12 anos recebi o meu primeiro cartão como “moço de curros”. Estávamos em 1953. Neste momento com 72 anos e enquanto tiver forças, estou na porta dos cavalos.
T - Efetivamente, uma dinastia ligada ao Campo Pequeno. Muitas recordações?
MC - Muitas. Aqui fiz de tudo um pouco. Moço de curros, embolador de emergência, arenero e até de monossábio numa corrida picada. Foi no tempo em que era líder da empresa o Sr. Manuel dos Santos. O mesmo que teve de me ir buscar à casa da guarda (espécie de prisão na praça) onde estava detido por ter saltado à arena para acudir a um forcado. Considerou o GNR que eu tinha saltado como espontâneo.
Também me lembro de uma noite nas festas da Cidade em que se fez uma evocação das antigas esperas e houve toiros nas ruas até ao meio dia seguinte. Estive pendurado numa pereira com o Sr. Manuel dos Santos com o novilho por baixo e com a árvore a dar sinais de ceder… Grande Susto!
T - Tantos anos depois, quais são as diferenças que acha na festa?
MC - Havia seriedade em tudo que era feito. Muita paixão. Lembro-me das zaragatas que explodiam nas bancadas entre os “Manuelistas” e “Diamantinistas”. Era uma época de grande rivalidade que se estendeu a outros toureiros. Havia essa paixão que enchia as praças e que fez evoluir a festa depois da era dos toiros corridos.
A festa hoje continua a ter os seus encantos mas está muito mais virada para o espetáculo pelo espetáculo. É uma evolução lógica e natural.
T - A partir da sua longa experiência que mensagem deixaria aos jovens que não sendo toureiros também gostam de partilhar os bastidores da festa?
MC - Amem a festa! Disfrutem deste espetáculo único e irrepetível em qualquer função de bastidores ou até como público. Pugnem pela verdade do espetáculo!